Hoje, o Brasil passa por uma mudança enorme em sua economia, com juros em seu menor patamar histórico, bolsa de valores com a maior quantidade já vista de investidores e inflação baixa – o que é de se invejar, caso fizermos uma comparação com os momentos desesperadores de hiperinflação da década de 80. No entanto, mesmo com toda essa evolução neste ano, somente agora temos propostas em tramitação como o Projeto de Lei 3145/20, que tem como objetivo tornar obrigatória a inclusão de educação financeira para o ensino infantil, fundamental e médio no Brasil.
A preocupação tardia com a necessidade de entendimento sobre finanças em nosso país, é a demonstração clara de que, culturalmente, o brasileiro médio está mais preocupado com o que vai lhe acontecer daqui a seis meses, do que efetivamente pode ocorrer quando estiver no final de sua vida.
A falta de um conhecimento básico em finanças tem repercussões irreversíveis na vida de uma pessoa, podendo muitas vezes, ser o divisor de águas entre uma vida próspera e feliz e uma existência miserável e infeliz. No entanto, as pessoas precisam entender que ter conhecimento financeiro não significa se tornar um especialista ou um profissional da área de finanças. É necessário que todos compreendam que ter uma noção básica sobre o assunto, contribuirá não só para a tomada de decisões contundentes quanto ao próprio dinheiro, como também ajudará para que cada indivíduo aprenda a formular perguntas concretas sobre os objetivos que desejam alcançar com as suas finanças.
A educação financeira possibilita que todo cidadão compreenda o poder dos juros compostos, que se usados a seu favor, podem ser os seus melhores amigos, mas quando são usados contra, podem levar à falência. O cartão de crédito é o melhor exemplo nesta situação, pois é um instrumento que ajuda a postergar as suas despesas por um custo, que no caso são os juros pagos. Possivelmente, quase todo cidadão adulto e economicamente capaz, conhece ou usa o cartão de crédito, o que pode ser comprovado por diversas pesquisas realizadas nos últimos 7 anos pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS). Entretanto, na bolsa de valores somente 2% da população atua como investidor.
Um relatório da ABECS sobre o primeiro trimestre deste ano, mostrou que foram realizadas mais de 11 bilhões de transações via cartão de crédito. Por outro lado, uma pesquisa recente realizada pela XP Investimentos, demonstrou que mais de 90% dos investidores que aplicam na bolsa – com um horizonte de pelo menos 10 anos –, viram o seu patrimônio crescer. Então, se colocarmos esse contexto em perspectiva, o brasileiro em sua grande maioria, prefere pagar juros a recebê-lo. E, na maioria das situações, isso acontece por falta de informação.
O conhecimento financeiro é também parte do entendimento de organização, onde é necessário separar o que é essencial do que é supérfluo. O orçamento familiar ainda é muito pouco utilizado pelas famílias brasileiras. Um estudo realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em conjunto com o Banco Central, revelou que apenas 60% das famílias brasileiras realiza com frequência algum tipo de controle orçamentário. Este tipo de organização é o ponto focal de qualquer família que pretende se preparar para objetivos de vida, desde a criação de um filho à uma viagem de final de ano – o que efetivamente pode transformar um indivíduo devedor em alguém poupador.
Uma expressão bastante famosa diz que “tempo é dinheiro”, mas em paralelo a esta frase, também pode ser dito que “informação vale ouro”. O nosso país é notório pela concentração bancária e alto custo de crédito, mas uma das principais razões dessa situação é a falta de informação da própria população.
Quem nunca viu uma promoção como essa: “pagamento em até 10 vezes sem juros”? Para alguém que entende que juros é o preço do dinheiro no tempo, sabe muito bem que esta frase é falaciosa e impossível. Se o pagamento a prazo não possui juros, podemos rapidamente concluir que os mesmos estão supostamente embutidos no valor à vista. Isso porque o valor do dinheiro de agora nunca será o mesmo no dia seguinte, devido ao fato de que é impossível saber o que vai acontecer amanhã ou no futuro.
Desta maneira, pessoas com algum conhecimento financeiro conseguem distinguir quando vale à pena comprar à vista e barganhar o preço ou comprar a prazo e arcar com os juros futuros. Então, ao entender essa premissa é possível perceber que o brasileiro médio barganha pouco e prefere postergar as suas despesas, pagando pelos juros. A comprovação disso são as altas taxas de juros cobrados pelos bancos. Pensando no lado de qualquer empreendedor, com a ótica ditada aqui, podemos afirmar que o valor do serviço prestado pode sair mais caro não só por causa do aumento da demanda, mas também pela falta de conhecimento financeiro.
A educação financeira é fundamental para qualquer indivíduo em qualquer país. Ela é a garantia de uma vida mais segura e o caminho mais assertivo para se alcançar objetivos. Este conhecimento não só melhora a vida de uma pessoa, como também faz com que os cidadãos busquem por serviços de maior qualidade à preços mais baixos. Durante a crise, conseguimos enxergar com mais clareza, a necessidade de uma boa organização financeira. No entanto, acredito que se o Brasil aproveitar este momento para instituir uma mudança cultural quanto a este aspecto, com certeza terá um futuro brilhante. O tempo não mostrará um porvir verdadeiro de nossa Patría!