O paraquedista e o homem que faz um trabalho raciocinado
Dir-se-ia que o entusiasmo é contrário à lógica, pois um homem entusiasmado não tem vontade de parar para refletir. Imaginem, por exemplo, um indivíduo que saltou de paraquedas a dois mil metros de altitude; ele desceu mil e começa a ver que está se aproximando da terra. Por outro lado, está com medo de que alguma coisa no seu paraquedas funcione mal. Agita os pés e estes lhe dão uma notícia inquietante: não tem chão em baixo.
O vento sopra e está levando-o para um lugar onde não quer descer; ele não sabe nadar e pode cair em alto mar, se o vento soprar errado. E, ao mesmo tempo, está entusiasmado: o ar, o vento, a natureza toda a seus pés, ele distante de todos os homens e posto numa solidão, onde ele só é racional e, portanto, rei. Que situação bonita! É um herói, e em breve vai conseguir fazer um grande feito, pois está levando uma mensagem para um Estado Maior, e quando a tiver entregue vão felicitá-lo e ele vai ser promovido.
Se nesse momento se apresentar ao paraquedista a pergunta: “Você já pensou o que significa metafisicamente estar descendo de paraquedas nessa situação?”, não seria a indagação que os presentes neste auditório gostariam de receber em tal ocasião; seria até o contrário do que apreciariam.
Então, pareceria que o raciocínio, o qual leva a aprofundar as coisas pela aplicação da inteligência, é o contrário do entusiasmo. Porque este leva a pessoa a sentir intensamente a situação, deleitar-se com a sensação, e isto parece o oposto do raciocínio.
De outro lado, um homem que precisa fazer um trabalho primorosamente raciocinado, não pode gostar que estejam perto dele coisas entusiasmantes. Ele está sentado junto à sua escrivaninha, com a cabeça entre as mãos, esforçando-se para tornar seu raciocínio convincente: Tal formulação convence ou não? Tal coisa vai bem ou não? E de repente alguém toca para ele uma linda música militar… O homem, então, diz: “Para com isso, eu quero pensar, não posso me entusiasmar, preciso ter a cabeça fria para raciocinar!”
Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 24/10/1987)